Indicação de filme: “Minha Terra, África” (2009)

Hoje é terça-feira, dia de novas indicações minhas por aqui, a obra de hoje é esta do cinema maneirista francês, disponível no catálogo do serviço Globoplay.

Diferente de boa parte de seus outros filmes, “Minha Terra, África” (2017) é uma obra em que a célebre e importante cineasta Claire Denis propõe uma abordagem muito mais direta com a sua narrativa. Uma aproximação franca da sua personagem e da relação dela com o seu entorno.

É como se diz mesmo – toda disputa por qualquer contexto de estrutura de poder, antes de ser ideológica, ou mesmo antes de ser uma luta por influência, é um mero desejo de posse. 

Marcelo Hessel também insinuou bem seus pontos ao escrever defendendo ideia sobre o filme, no qual, inclusive, acaba por bater nesta notória tecla: a de jogo de poder.

Quem tem, quem vai ficar com o quê”.

Escravos de Jó, jogavam caxangá.

E é isso: aqui nas dicas semanais, a gente não perderia a oportunidade de recomendar, hora ou outra, algum trabalho da cineasta francesa Claire Denis, ainda mais em um forte filme que a une com outra força do cinema do país, a atriz de peso Huppert.

Aqui, a interessante francesa Maria Vial (Isabelle Huppert) dedicou a vida adulta a colher café no país africano de colonização europeia em que vive, mas, quando explode uma guerra civil, nada passa a valer além do que os direitos que ela tinha sobre a fazenda Vial.

Denis volta a tratar da relação problemática da França com suas ex-colônias, relação essa para lá de conturbada e mediada por afetos mal resolvidos, como é comum no cinema da diretora. O resultado é tanto um filme sobre política, alteridade e poder quanto sobre um ‘não-lugar’, a lógica do despertencimento.

Cineastas maneiristas sempre propõem novas relações entre a forma e o conteúdo. Alguns se focam unicamente na forma – como o cinema absoluto alemão e o cinema estrutural. Outros, como é o caso desta nossa francesa de hoje, buscam subverter os elementos do conteúdo ao propor um olhar subjetivo de forte carga onírica – como também Maya Deren e Luis Buñuel. Mas podemos afirmar que todos eles exploram a linguagem audiovisual de algum modo. Mais do que propor uma narrativa, esses artistas querem evidenciar experiências muito potentes que apenas a linguagem do cinema pode proporcionar. 

Estamos diante não de um filme que media o que está a sua frente, mas, pelo contrário, concebe uma relação muito imediata com a cena. Além do drama se relacionar com questões muito habituais do cinema narrativo, flertando inclusive com a comédia romântica, a decupagem da diretora busca um propósito mais espontâneo.

O cinema de Denis é, antes de tudo formalista, como também político em todas as suas potencialidades.

A posse da casa em si despolitiza. É a ilusão de pertencer a um lugar, só que mais uma vez como herança.

Eis aqui um grande triunfo do humanismo politizado, mas sem exagerar e ficar piegas demais.

Creio que por estas, mesmo sem precisar de muito mais, já bastam para conferir este filme.

Afinal, Denis sempre chama a atenção ao voltar seu compassivo olhar, com a câmera que tudo vê e registra, sobre a história de pessoas que diante de todas as dificuldades, seguem adiante mesmo conscientes de que provavelmente passarão toda a vida enfrentando os mesmos obstáculos.

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