Crítica | ‘Top Gun: Maverick’ (2022): O evento cinematográfico do ano que revive a experiência do cinema

Quem poderia imaginar que a sequência do clássico de 1986, “Top Gun: Ases Indomáveis” seria um fenômeno inimaginável e um dos filmes mais falados e elogiados de 2022. O longa esteve em cartaz desde maio na maioria dos cinemas do mundo e se manteve por 17 semanas no Top 10 de vários países, além de um relançamentos no mês de dezembro nos Estados Unidos e agosto no Brasil, o que resultou numa arrecadação de mais de US$ 1,488 bilhão, se tornando a maior bilheteria da carreira de Tom Cruise que estrela a sequência, e a sétima maior bilheteria de todos os tempos no território doméstico com US$ 718,7 milhões.

Tudo esse sucesso se dá a uma conjunção de fatores, nos últimos dois anos as pessoas foram forçadas a ficarem em suas casas devido a Covid-19, com as incertezas da época, buscamos qualquer tipo de alienação, em filmes, séries, jogos, realitys e qualquer tipo de entretenimento capaz de nos tranquilizamos perante essa situação. Essa foi uma oportunidade dos estúdios aproveitarem que todos estavam em casa com pouco conteúdo para consumir para lançarem seus longas que estariam nas telonas nas plataformas digitais ou serviços de streaming.

Enquanto muitos lançaram seus filmes nos streamings e para aluguel digital de imediato, “Top Gun: Maverick” fez o contrário, o longa que estava agendado para 2020 foi adiado pelo menos umas quatro vezes, entre esses adiamentos, teve várias ofertas de serviços de streaming querendo comprar o filme para disponibilizar no seu catálogo, mas mesmo com isso, o filme manteve seu lançamento nos cinemas, e já adiantando, esse é um dos poucos filmes desse ano e dos últimos anos que pede para ser assistido numa sala de cinema, na maior tela e o melhor som possível, o espectador consegue sentir os sons das turbinas dos caças, todas as acrobacias dos F-18 e ouvi o sonic boom numa sala de cinema é de cair o queixo.

“O público deve sentir a autenticidade, a tensão, a velocidade e as forças gravitacionais, algo que não pode ser alcançado por meio de palco sonoro ou efeitos visuais, que exigiram muito esforço e trabalho”.

Disse o diretor Joseph Kosinski em uma entrevista.

Outro fator que “Maverick” conseguiu se destacar dos filmes habituais é a falta do CGI explícito, com o avanço tecnológico, a maioria dos blockbuster, principalmente os do gênero de super-heróis tem se voltado a utilização da computação gráfica (o famoso CGI) de forma tão excessiva, que quando os efeitos estão inacabados, o público atento consegue perceber a falta de capricho na tela. O que não acontece em Top Gun: Maverick, aqui o GCI é usado para completar as cenas mais intensas, enquanto as tomadas dos atores em vôo, a versão F/A-18F foi usada com o piloto real no banco da frente equipado com câmeras especiais para filmar os atores no banco de trás. Os atores também tiveram que aprender iluminação, cinematografia e edição para operar adequadamente as câmeras, porque, como disse o produtor Jerry Bruckheimer, “quando eles estão no jato, eles precisam se dirigir essencialmente”.

Tom Cruise pilota todas as vezes em um F/A-18E de assento único, incluindo a decolagem de um porta aviões da Marinha dos EUA, sendo o primeiro civil a fazer tal feito, é admirável ver o empenho da produção para que o espectador sinta-se imerso naquelas duas horas.


Todos esses feitos, ajudam a embarcarmos na história que se passam 30 anos após o primeiro filme, onde Pete Mitchel. codinome Maverick ainda está servindo a Marinha norte-americana, depois de perder seu parceiro voador Nick Bradshaw (Goose) no primeiro filme, Pete acabou ficando mais solitário, trabalhando como piloto de testes e preso no posto de capitão e ainda inconsequente.

Quando um programa espacial que ele estava participando é encerrado. Mitchel é forçado a volta para Top Gun com o objetivo de treinar um grupo de jovens pilotos, para realizarem um missão que em tese é “impossível” de realizar, eles são os melhores pilotos, mas eles precisam do treinamento e da audácia de Maverick para cumprirem a missão, e um desses pilotos está Bradley Bradshaw (Rooster), interpretado por Milles Teller – o filho de Goose que o culpa Pete pela morte de seu pai e por que ele atrasou a sua entrada na Marinha com medo dele seguir os passos do pai e acabar que nem ele.

Top Gun: Maverick adere a uma linha entre uma sequência nostálgica de Top Gun e um filme onde Tom Cruise faz as próprias cenas de ação. A presença de Christopher McQuare no roteiro também traz esse aspecto “Missão: Impossível” ao filme. Diferente de muitos reboots atuais onde apresentam personagens mais jovens como protagonistas, “Maverick” traz Tom Cruise de volta ao protagonismo e em nenhum tempo o coloca como uma passagem de bastão a uma nova geração e sim no papel de força e exemplo de inspiração e estratégia militar para os jovens pilotos.

O roteiro incorpora que Tom “Iceman” Kazansky (Val Kilmer) está agora ocupando o lugar de Tom Skerritt/Viper, e que sempre é o responsável por salvar a pele de Maverick. O câncer de garganta de Kilmer, proíbe que o Iceman apareça em muitas cenas, deixando apenas uma emocionante cena, onde ele convida Maverick para se encontrar para falar sobre trabalho, comunicando-se principalmente pelo computador – mas é inteligente, compensando a forma como a dinâmica entre ele e Maverick evoluíram.

O roteiro apresenta ao espectador algumas cenas, situações e trilhas que marcaram o primeiro Top Gun que tende a deixá-lo esse longa com uma sensação de repetição e uso da narrativa do filme clássico para desenvolver a trama desse segundo, mas isso pode ser justificado pois aqui Maverick que já esteve no lugar daqueles jovens alunos, agora tem que treiná-los para a missão do seu jeito.


Além da direção de Kosinki e a bela fotografia de Claudio Miranda, a montagem de Eddie Hamilton, dá dinamismo fluidez entre as cenas na cabine e os meios externos, assim como o trabalho sonoro que é de primeira linha, os rasantes dos jatos, o ronco dos motores e até elementos mais simples e imperceptíveis como o som dos controles ou o barulho de metais que mostram o cuidado detalhista do filme.

Se tem alguns erros em “Maverick” é de se dizer sobre as personagens femininas da história que não possuem destaque na história, e sempre ficam como coadjuvantes ou estão lá para impulsionar os personagens masculinos. O filme fornece uma subtrama romântica superficial, entre Pete e Penny Benjamin (Jennifer Connelly), um amor do passado que Maverick encontra ao voltar para Top Gun, o que lhe dá uma motivação para voltar para casa, já que suas tendências ousadas emitem fortes vibrações kamikaze sem sucesso.

Considerando a importância que Goose e Rooster desempenham nesta missão, seria bom ver Meg Ryan retornando como a viúva/mãe, assim como Kelly McGillis que viveu o interesse amoroso de Pete no primeiro filme e que é apagada dessa sequência, mas Hollywood é cruel quando se trata de atrizes que envelhecem ou as que não seguem os padrões de beleza que a indústria pede.

Em resumo, Top Gun: Maverick é um espetáculo visual e sensorial, que traz novamente a magia do cinema que torna suas performances perfeitas com as tomadas aéreas externas, que se torna um respiro a essa enxurrada de enlatados de super-heróis cheio de fundo verde e efeitos visuais inacabados e que estão dominando cada vez mais. Isso até dialoga com a fala do personagem do Ed Harris, quando avisa para Pete que com os avanços da tecnologia e o advento dos drones, “um dia, eles não precisarão de pilotos” e que “a sua espécie está em extinção“, o cinema está indo cada vez mais na mesma direção, substituindo atores por boneco digitais e locações reais por telas verdes – mas Maverick dá uma boa resposta que talvez representa que o público ainda estão dispostos à verem mais filmes como esse filme: “talvez esteja, mas não hoje“.

Top Gun: Maverick‘ está disponível nos catálogos da Globoplay (dentro do pacote “Globoplay + Telecine”) e Paramount+.

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