Crítica | ‘The Flash’ (2023): Pra quem é rápido, chegou tarde

Muito tempo que ouço que a hora de ver o velocista escarlate da DC chegando às telonas, mas sim a pelo menos uma década vêm se falando do filme do personagem Flash, ao longo dos anos tiveram muitas tentativas de uma adaptação do herói.

Desde da década de 1980 com um iniciante Jeph Loeb escrevendo um roteiro que não levou a lugar nenhum. No início dos anos 2000, David S. Goyer foi contratado para escrever o roteiro com Wally West como protagonista e interpretado por Ryan Reynolds, mas a Warner colocou produção solo de lado para focar em “Justice League: Mortal“, o filme da Liga dirigido por George Miller que tinha Adam Brody no papel de Flash, e que seria a promessa de um universo DC, mas foi afetado pela greve dos roteiristas e acabou sendo cancelado antes do início das filmagens.

Ao longo dos anos, o projeto passou por vários roteiristas e diretores (Phil Lord e Chris Miller, Rick Famuyiwa, Robert Zemekis, e a dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein que deixaram The Flash para dirigir “Dungeons & Dragons“), e o longa que chega em cartaz nessa semana tem o diretor argentino Andy Muschietti (“IT: A Coisa“), com o roteiro de Christina Hodson, baseado no argumento de Daley e Goldstein e de Joby Harold, que usa como premissa, o arco de 2010 “Flashpoint” em que o Flash, essencialmente, ao voltar ao passado para tentar impedir que sua mãe seja assassinada e seu pai, seja injustamente condenado pela morte dela, quebra o multiverso.


O longa começa com uma sequência inicial de ação frenética, em que Barry Allen recebe uma ligação urgente de Alfred (uma participação especial de Jeremy Irons) alertando-o sobre um trabalho em Gotham que salva vidas em um hospital para o qual ele é necessário com urgência. Vemos um Flash frustrado com seu lugar dentro da Liga da Justiça servindo essencialmente para limpar a bagunça que os heróis causam, também serve como uma breve despedida para alguns heróis e seus intérpretes que acompanhamos pela última década.

Barry também sofre por sua incapacidade de provar que seu pai (Ron Livingston) é inocente do misterioso assassinato de sua mãe (Maribel Verdú). E então ele usa seus poderes para, voltar no tempo. Mas isso atrapalha o continuum espaço-tempo no processo – levando Barry a se cruzar com uma versão mais jovem (e irritante) de si mesmo que não tem seus poderes.

O roteiro de Christina Hodson (Dos ótimos “Aves de Rapina” e “Bumblebee”) faz malabarismos com vários elementos relacionados à viagem no tempo, múltiplas realidades, linhas do tempo para torná-los coerentes e de uma maneira genuinamente divertida, mas não se preocupa em explicar os meandros do multiverso ou de linhas temporais distintas o que pode acabar realçando alguns furos no roteiro. Seu calcanhar de Aquiles interno seja porque ele veio num momento em que tivemos uma sequência de filmes que abordaram o multiverso com resultados mistos (e com resultados excelentes, incluindo o vencedor do Oscar de Melhor Filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e a franquia animada da Sony, “Aranhaverso“), e o que é apresentado em “The Flash” se assemelha ao que está sendo usado nas produções da Marvel Studios como um chamariz nostálgico, permitindo com que variantes de toda a história da DC no cinema entrem em cena (embora algumas participações especiais sirvam puramente como fan services, em vez de levar a história adiante).

O roteiro Hodson é capaz de extrair um pouco da humanidade do Barry, aqui, ele está na frente e no centro e descobre novos níveis de suas habilidades enquanto lida com as ramificações de suas ações movidas por pura emoção. Ezra Miller consegue atingir um equilíbrio em separar duas interpretações de versões diferentes do Barry Allen e fazer ambos críveis, o primeiro Barry mostra uma maturidade que não vimos em outros filmes do DCEU e o segundo Barry se assemelha como uma versão mais infantil e irritante do Flash que vimos nos filmes da Liga. Podemos dizer o mesmo de Michael Keaton, que faz seu grande retorno como Batman, que escapa da participação “nostálgica” dando uma continuidade ao que foi apresentado nos filmes do Tim Burton e que ajuda a história andar. Sua performance parece dedicada a cada cena quando seus laços de Bruce Wayne com Barry sobre a perda compartilhada de perder seus pais. Já Sasha Calle que vive uma versão da Kara Zor-El, aka. Supergirl que foi aprisionada numa base militar não aparece tanto quanto se pensava e até pode ser um pouco decepcionante para os fãs que esperavam mais participação. Assim como o General Zod de Michael Shannon que é apenas um vilão físico para Supergirl e uma ameaça secundária para os Flashs, já que o verdadeiro conflito é interno, pois Barry deve resolver as rachaduras na linha do tempo e aprender a seguir em frente.

O longa é bem-sucedido quando abraça o lado mais cartunesco dos quadrinhos, nos momentos em que o Flash está na Força de Aceleração, ou quando é apresentado o conceito do anel que guarda o uniforme, ou quando os dois Flashs tem que trabalhar com a Supergirl no terceiro ato, a fotografia de Henry Branaham usa lentes angulares para às vezes focalizar o rosto de Miller que dão uma sensação de incômodo, mas são usadas para o propósito cômico, no qual os momentos cômicos são bem pontuados. Quanto aos efeitos especiais, o filme ele não escapa dos CGIs tenebrosos, com parte do trabalho inacabado em alguns momentos, especialmente quando o Flash tem que usar seus poderes, mas isso é uma reclamação que cobre não só o cinema de heróis (como vimos em “Quantumania”), mas da Indústria em geral. Os outros elementos técnicos como a trilha sonora de Benjamin Wallfisch e a fotografia de Branaham, ajudam a fundamentar o filme quando ele mais precisa.


Apesar de ter quase duas horas e meia de duração, “The Flash” passa correndo (desculpe o trocadilho). A direção de Muschietti é um ato de equilíbrio perfeito que torna a ação envolvente e apropriadamente boba quando necessário. Recentemente, o diretor foi contratado para dirigir “The Brave and the Bold” o próximo filme do Batman para DC Studios, sob a nova proposta de Universo DC que os CEOs James Gunn e Peter Safran estão montando, e a julgar pelo que vimos em “The Flash”, Muschietti conseguiu utilizar bem os Batmans disponíveis em todos os quesitos, tanto as cenas de ação do Batman de Affleck quanto com o Batman de Keaton.

O calcanhar de Aquiles externo foi em torno de todo hype feito em volta da campanha de marketing, com influenciadores e celebridades de vários segmentos e diversas exibições especiais, dizendo ser “um dos melhores filmes de super-heróis”, jogando as expectativas para o alto levando achar que eles estavam trabalhando com algo nunca visto no sub-gênero de heróis. Essa expectativa gerou uma ansiedade que, se não for controlada, poderia ser prejudicial ao filme.

The Flash” não reinventa o gênero de super-heróis como queriam pintar, mas ainda é um bom entretenimento de fim de semana. Por mais genuinamente divertido que seja, ele serve ao proposito de dar um encerramento ao DCEU iniciado por Zack Snyder (informalmente chamado de Snyderverso) e com um final parecido com que tantos filmes de heróis fazem que ‘não se preocupe com esse filme, pois o que estamos preparando para o futuro será melhor’.

The Flash” está em cartaz nos cinemas brasileiros.

2 comentários em “Crítica | ‘The Flash’ (2023): Pra quem é rápido, chegou tarde

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